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segunda-feira, 11 de junho de 2012

No Araçagi, área nobre de São Luís, ocupantes de baixa renda tomam os terrenos daquele bairro

Como na ocupação do Oeste norte-americano, corrupção e violência são práticas envolvidas na negociação e ocupação de terrenos no Araçagi

Por trás das casas de luxos e mansões, ocupantes de baixa renda tentam fixar seus casebres, indiferentes a moradores... (GILSON TEIXEIRA/OIMP/D.A.PRESS)
Por trás das casas de luxos e mansões, ocupantes de baixa renda tentam fixar seus casebres, indiferentes a moradores...
Uma nuvem de fumaça. Por trás dela paus e estacas, lonas, ferramentas rurais e famílias aparentemente de baixa renda que constroem lentamente casebres de taipa ou mesmo de lonas. O cenário é de uma ocupação em terrenos no bairro Araçagi, para onde a área nobre de São Luís se expande cada vez mais. O local próximo à praia, ainda pouco habitado, já conta com alguns casarões e sítios luxuosos e muitos terrenos e lotes ainda à venda, caracterizando forte disputa no mercado imobiliário.

Em pesquisa a alguns classificados da cidade, constatou-se que os preços de lotes e terrenos em áreas como as do Parque Araçagi medindo de 15m por até 50m variam em torno de R$30 a R$150 mil, preço alto que certamente nenhuma das famílias em terrenos ocupados teriam poder aquisitivo para adquirir e manter um dos lotes no bairro.

A reportagem entrou em contato com alguns corretores por telefone se passando por um comprador interessado em lotes na área. Perguntado sobre a questão de ocupações na área, o corretor garantiu que a permanência das famílias que estão ocupando vários terrenos na região do Parque Araçagi é temporária acrescentando que a maioria dos lotes em volta já foram vendidos, o que, segundo ele, representa uma boa vizinhança.

Quanto à documentação dos lotes a mesma garantia: nenhum problema em relação o assunto. "Temos toda a documentação necessária para assegurar a posse dos lotes, podemos inclusive provar no cartório", informou um corretor. Ele não informou quanto custa em média o metro quadrado (m²) na área, mas usou toda a persuasão para vender os terrenos, garantindo que a área é boa e frisando que a vizinhança é melhor ainda.

...de taipa, onde fervilha intensa atividade de homens, mulheres e crianças: alegação sempre de não ter onde fixar moradia (GILSON TEIXEIRA/OIMP/D.A.PRESS)
...de taipa, onde fervilha intensa atividade de homens, mulheres e crianças: alegação sempre de não ter onde fixar moradia
Há mais de um mês, no Parque Araçagi mais de 50 famílias tomaram um terreno no bairro reivindicando, segundo eles, apenas um lugar para morar. A ocupação já trouxe transtornos aos possíveis proprietários dos terrenos ocupados que querem o lote desocupado. O caso já envolveu a polícia e ainda discute com o Ibama. De acordo com os ocupantes a área é de preservação ambiental e o órgão fez a doação da área para ocupação, o que segundo o Ibama a informação não procede.

O caso vai além quando os mesmos terrenos são vendidos e revendidos a várias pessoas caracterizando o que se pode chamar de grilagem. A máfia dá muito lucro a quem a pratica e quando o 'negócio' é descoberto o crime toma outras proporções como homicídios encomendados, a exemplo o caso do empresário Marggion Andrade, morto em outubro do ano passado.

De acordo com o delegado Carlos Alberto Damasceno, a grilagem está cada vez mais comum no estado, com destaque para os municípios de São José de Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar que são áreas de muita insegurança no que diz respeito a imóveis. Ele explicou que há muito tempo havia uma quadrilha que se apropriava de terrenos, produziam documentos falsos, além cartório, com dupla propriedade e ainda loteamentos sobrepostos.

Segundo ele, a quadrilha atua desde meados da década de 80 quando o 'negócio' ainda era desconhecido, de acordo com o delegado, a identificação de casos de grilagem acontece com mais frequência quando há uma vítima denunciante. "Os casos possuem vários desdobramentos mas, sempre partindo do princípio da grilagem, são novos casos todos os dias", disse. A polícia ainda investiga a existência dessa quadrilha e chegou a prender envolvidos nos casos e investigando outros.

Como campeão de casos como este está o município de São José de Ribamar, com mais de 20 áreas com lotes de dupla propriedade, ainda segundo o delegado, o Parque Aquários e Cidades e Fruteiras tem indícios do assunto. Em Paço do Lumiar a área é o Jardim Verde Mar e por fim na Raposa o ponto com maiores indícios de grilagem é o Farol do Mar.

Atualmente as famílias estão se instalando mais a cada dia. Com barracos já formados, outros não e famílias realizando atividades rotineiras do cotidiano, a comunidade vai tomando forma e ocupando uma das áreas mais nobres de São Luís e promete não sair do local.

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