Projetos das refinarias do Maranhão e do Ceará só serão executados
caso se viabilizem economicamente, disse a presidente da Petrobras,
Maria das Graças Foster
Politicamente desejadas no governo Lula,
mas economicamente inviáveis, as refinarias Premium 1, no Maranhão, e a
Premium 2, no Ceará, deverão ter seus destinos decididos até julho deste
ano. Ao detalhar o Plano de Negócios 2013-2017 ao mercado, a presidente
da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou, na tarde de terça-feira
(19), em entrevista coletiva no Rio, que, apesar de importantes para o
atendimento do mercado interno de combustíveis, os dois projetos, além
da segunda unidade de refino do Comperj, em Itaboraí, no Rio de Janeiro,
precisam se tornar viáveis economicamente para serem executados. Em
entrevista concedida após a coletiva de Foster, o diretor de
Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, afirmou: 'Esses
projetos [as refinarias e o Comperj] estão, hoje, sob análise, e nós
esperamos até a metade do ano, em julho, ter uma posição sobre a
viabilidade econômica deles'.
Não 'subiram no telhado' – 'O desafio agora é viabilizar essas
refinarias para que elas sejam competitivas a nível internacional. Essas
refinarias nunca 'subiram no telhado', nem estão no telhado, mas não
posso construir uma refinaria que não deu tudo de si como projeto. As
Premium precisam mostrar evolução em sua concepção. Não é pessimismo nem
otimismo, é realidade', destacou Graça.
Para agradar aliados –
As duas refinarias entraram nos planos estratégicos da Petrobras em
2008, quando a companhia era comandada por José Sergio Gabrielli. A do
Maranhão, com capacidade para refinar 600 mil barris por dia e orçada
pelo mercado em cerca de US$ 20 bilhões, tinha previsão para iniciar a
operação em 2016. Já a do Ceará, de 300 mil barris por dia e custo
estimado em US$ 10 bilhões, operaria em 2017. Para especialistas, a
decisão de Gabrielli, que foi predominantemente política, para agradar
aliados do governo, carece de suporte técnico e econômico.
Segundo o ex-diretor da Petrobras Wagner Freire, a opção pelas Premium,
isoladas no Nordeste, revela que houve ingerência política do governo
federal.
'Por que e para que investir em refinarias no Maranhão e
no Ceará? Ao meu ver, esses investimentos não têm sentido. Mesmo sendo
adiados, deveriam ser revistos', diz Freire.
O especialista
Adriano Pires concorda que a decisão de se construir as refinarias foi
política, mas lembra que havia um argumento técnico, a exportação dos
derivados e, posteriormente, o suprimento do consumo na região.
'Esses projetos se tornaram inviáveis porque, além das margens de refino
serem pequenas, o governo controlou os preços dos combustíveis',
afirma.
Em avaliação – As duas refinarias constam como 'projetos
em avaliação' do Plano 2013/17, que prevê investimentos de US$ 236,7
bilhões, o mesmo volume do Plano 2012/16. A redução dos custos da
companhia envolve ainda a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Maria das Graças Foster afirmou que já conseguiu reduzir custos em US$ 3
bilhões. Atualmente, a refinaria está orçada em US$ 17,3 bilhões, dos
quais já foram gastos US$ 11,7 bilhões, com 70,6% da obra executada.
Sobre a possibilidade de a petroleira estatal da Venezuela, PDVSA, ainda
participar do projeto, Graça disse que está aberta a discussões. No dia
28 de fevereiro, venceu o prazo do último aditivo, no qual se esperava
uma posição da Venezuela.
'Foi solicitada uma agenda com o presidente da PDVSA', destacou Graça.
Produção – Os executivos da Petrobras detalharam ainda a evolução da
produção do petróleo para os próximos anos. Para 2013, a expectativa é
de uma produção de dois milhões de barris por dia, com uma variação de
2% para cima ou para baixo. Graça lembrou que, a partir do segundo
semestre deste ano, com a entrada de novas plataformas, a produção
começará a crescer, chegando a 2,75 bilhões por dia em 2017. Para 2020, a
meta é de 4,2 milhões diários.
O destaque dos próximos períodos
ficará por conta do pré-sal. Sua produção, hoje em 300 mil barris por
dia, vai saltar para 1 milhão de barris diários em 2017, ou 42% do
total. José Formigli, diretor de Exploração & Produção da estatal,
afirmou que em 2020 o pré-sal vai produzir 2 milhões por dia, cerca de
metade do total.
'O pré-sal corresponde a 30% dos investimentos
em exploração, cerca de US$ 7,2 bilhões. Em produção, a fatia sobe para
68%, com US$ 72,6 bilhões. Em 2011, o pré-sal era 5%; em 2012, foi 7%. A
opção da empresa é a otimização dos investimentos em exploração e
produção', afirmou.
Segundo o Plano 2013/17, o segmento de
exploração e produção vai consumir US$ 147,5 bilhões, 62% do total.
Graça se disse satisfeita com a manutenção das metas de produção e
destacou o forte desenvolvimento no pré-sal, com ganhos de produtividade
e redução de custos. Ela citou que o tempo de perfuração de um poço no
pré-sal caiu de 134 dias para 70 dias:
'Temos poços que hoje produzem 30 mil barris por dia de óleo'.
Ações em queda – Para escoar o aumento da produção que virá com o
pré-sal, a Petrobras está analisando criar novas bases portuárias no
Norte do Rio e no Espírito Santo. A empresa admitiu que está conversando
com o empresário Eike Batista para usar o Porto de Açu, em São João da
Barra, como uma das bases para escoar a produção. Formigli, no entanto,
ressaltou que a principal base será o Porto do Rio:
'O Porto do Rio tem capacidade para atender por vários anos, já que Macaé está no limite'.
Apesar da manutenção das metas de produção, o mercado reagiu mal ao
detalhamento do plano, por causa da falta de previsão de novos reajustes
de combustíveis. Além disso, desagradou o fato de que não haverá
mudanças na distribuição de dividendos, alterada recentemente para gerar
mais caixa à empresa. Com isso, as ações preferenciais (PN, sem direito
a voto) perderam 0,52% e os papéis ordinários (ON, com direito a voto)
recuaram 1,81%, na terça, na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
'Não posso dizer que preciso de mais um, dois, ou três reajustes, ou
nenhum, para colocar esse plano sustentável. Estamos buscando a
convergência com os preços internacionais. Nos últimos nove meses,
tivemos quatro aumentos (de 21,9% no diesel e de 14,9% na gasolina) e
temos demonstrado empenho na busca da aproximação da convergência',
disse Foster.
Para executar o plano, o diretor financeiro da
Petrobras, Almir Barbassa, garantiu que a empresa vai manter sua
alavancagem em até 35% para não perder o grau de investimento. Outro
compromisso, disse, é que não serão feitas novas emissões de ações. Dos
investimentos totais, US$ 165 bilhões virão de recursos próprios e US$
61,3 bilhões serão captados no mercado, além de US$ 10 bilhões com venda
de ativos. (O Globo)